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Acordo UE-Mercosul enfraquecido?
Com o Mercosul em risco no novo pacto EUA-UE e o modal aéreo sob pressão tarifária, COSCO busca aumentar presença portuária mundial e o Brasil tenta reagir com incentivos fiscais
👀 Acordo UE-EUA pode impactar UE-Mercosul

O recente acordo entre Estados Unidos e União Europeia, anunciado por Donald Trump e Úrsula von der Leyen, pode complicar a implementação do acordo UE-Mercosul.
O entendimento EUA-UE inclui tarifas de 15% sobre produtos europeus exportados aos EUA, enquanto elimina tarifas para muitos produtos americanos destinados ao mercado europeu.
Ele também prevê uma meta de compras da UE em energia americana, o que pode reduzir a demanda europeia por biocombustíveis, como o etanol brasileiro.
Essas condições podem desviar recursos financeiros e atenção política de Bruxelas, atrasando a ratificação do acordo negociado com o Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, reduzindo os benefícios esperados para o Mercosul.
A isenção tarifária concedida às exportações americanas, no acordo anunciado ontem, contrasta com as concessões limitadas oferecidas ao Mercosul. Os europeus mantiveram barreiras ao bloco sul-americano, como cotas para carne bovina e outros produtos.
Agora, o Mercosul terá de disputar espaço com itens norte-americanos isentos de tarifas no mercado europeu — cenário que ameaça a competitividade de setores como carnes e etanol.
Um novo fator de risco também ameaça a assinatura oficial do acordo: agricultores europeus, que já demonstram resistência à parceria com o Mercosul, podem intensificar sua oposição diante da concorrência adicional dos EUA.
Com compromissos energéticos com os EUA já vistos como menos sustentáveis (compra de gás, petróleo e combustível nuclear), o entendimento com Washington pode intensificar pressões sobre Bruxelas para cumprir metas de sustentabilidade, dificultando a justificativa do acordo com o Mercosul diante da opinião pública e do Parlamento Europeu.
O novo cenário pode levar a UE a priorizar a relação com os EUA e deixar o Mercosul em segundo plano, reforçando a dependência comercial do bloco sul-americano em relação à China.
Impactos na logística
A UE e os EUA são os principais parceiros comerciais um do outro e mantêm a maior relação bilateral de comércio e investimento, respondendo por quase 30% do comércio mundial de bens e 43% do PIB mundial.
A tarifa de 15% sobre exportações europeias elevou imediatamente os custos para os importadores americanos. Para o setor de logística, isso significa margens mais estreitas, com clientes exigindo soluções para mitigar os novos custos.
Especialistas alertam que o acordo pode provocar mudanças significativas no setor americano de transporte de mercadorias.
⏳ Contagem regressiva para implementação das tarifas de Trump tumultua logística na rota Brasil-EUA
A proximidade da entrada em vigor da sobretaxa de 50% dos EUA sobre produtos brasileiros está causando transtornos na logística entre os dois países. Exportadores estão utilizando o transporte aéreo para antecipar embarques e evitar a sobretaxa, resultando em congestionamento no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP).
Mas as vagas disponíveis nos aviões estão sendo ocupadas rapidamente, e as cargas não conseguem escoar na velocidade normal.
A concessionária GRU Airport informou que registrou um aumento expressivo nos despachos de cargas para os EUA — principalmente de calçados, frutas, peças automotivas e peças agrícolas.
Segundo a operadora, 20% das exportações que passam por Guarulhos têm como destino os EUA. Com isso, exportadores estão sendo orientados a confirmar a reserva com as companhias aéreas antes de enviar as cargas ao terminal, a fim de evitar acúmulos.
Com Guarulhos congestionado, exportadores têm redirecionado suas cargas para outros terminais, incluindo aeroportos com menor demanda de exportação e capacidade ociosa.
O Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre (RS), registrou aumento de 58% na demanda de exportações para os EUA;
O Aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), relatou que, nesta semana, uma carga de 48 mil toneladas de peças de máquinas agrícolas para os EUA foi redirecionada do Porto de Santos para o aeroporto. A empresa que transportaria essa carga pelo modal marítimo redirecionou para o modal aéreo, visando uma chegada antecipada da mercadoria.
Em contrapartida, o transporte marítimo vive uma situação oposta, com exportadores suspendendo embarques, uma vez que não é mais possível chegar aos EUA antes do dia 1º de agosto.
Esse cenário levou ao acúmulo de mercadorias em terminais portuários e retroportuários, afetando principalmente setores como madeira, café, carnes, ferro-gusa e rochas naturais. Essas paralisações geram preocupações sobre interrupções na produção industrial e risco de perda definitiva de clientes norte-americanos.
Setor rodoviário também é afetado
Segundo o Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (Setcesp), a proximidade das tarifas americanas tem causado redução na demanda por serviços logísticos voltados ao comércio exterior e aumento nos custos operacionais com os redirecionamento de rotas.
O presidente do conselho superior e de administração do Setcesp, Marcelo Rodrigues, afirma que, embora ainda não existam números consolidados sobre a baixa no volume de cargas, há uma queda perceptível na demanda.
Além da retração, o Setcesp afirma ter ouvido relatos de empresas que planejam férias coletivas, redução de jornada e até suspensão temporária de atividades, especialmente entre transportadoras ligadas à logística portuária e aeroportuária.
O setor responde por cerca de 65% da movimentação de cargas no país e emprega quase 1 milhão de pessoas formalmente.
🤝 Governo amplia apoio a exportadores brasileiros, com devolução e desoneração de tributos
Nesta segunda-feira (28), a Lei do Acredita Exportação foi sancionada pelo presidente do Brasil. O foco principal da lei, aprovada por unanimidade na Câmara e no Senado, é expandir a base de micro e pequenas empresas (MPEs), permitindo que obtenham a devolução de tributos federais pagos ao longo da cadeia produtiva de bens industriais destinados à exportação.
Ao todo, mais de 13 mil firmas devem ser beneficiadas com o ressarcimento do equivalente a 3% de suas receitas com vendas externas, por meio de compensação com tributos federais ou ressarcimento direto ao exportador.
Os pedidos deverão ser apresentados em sistema da Receita Federal pelas MPEs, e pelas optantes do Simples Nacional, após a publicação do decreto presidencial de regulamentação, a partir de 1º de agosto.
A lei também amplia as desonerações para empresas que operam no regime Drawback Suspensão e no Recof. Agora, as desonerações valerão também para os serviços associados a essas exportações, como transporte, seguro, armazenagem e despacho aduaneiro.
A medida viabiliza a suspensão do PIS/Pasep e da Cofins sobre esses serviços, gerando redução de custos operacionais.
A regulamentação para o Drawback Suspensão, que terá efeito imediato, será realizada em portaria conjunta da Secex do MDIC e da RFB do Ministério da Fazenda. No caso do Recof, a expansão para serviços ocorrerá a partir de 2026, conforme regramento a ser divulgado pela Receita Federal.
Segundo a OCDE, os serviços respondem por aproximadamente 40% do valor adicionado nas exportações de manufaturados brasileiros.
Em 2024, o regime de Drawback Suspensão foi utilizado por 1,9 mil empresas, responsáveis por cerca de US$ 69 bilhões em exportações, o que representa aproximadamente 20% das vendas externas do país.
🏗️ Participação da COSCO na venda dos portos da CK Hutchison alivia pressão de Pequim, mas pode aumentar a dos EUA
A proposta de inclusão da gigante chinesa COSCO na venda dos portos da CK Hutchison representa uma potencial vitória para Pequim, mas deve enfrentar desafios regulatórios e resistências dos EUA.
O acordo, anunciado inicialmente em março, prevê a venda de 43 portos em 23 países, incluindo dois ao longo do Canal do Panamá, para um consórcio liderado pela BlackRock (EUA) e pela MSC (Itália).
A inclusão da COSCO poderia equilibrar o controle do setor marítimo, mas também significaria um aumento da influência geopolítica chinesa no transporte marítimo.
O governo Trump já havia defendido a remoção da propriedade chinesa do Canal do Panamá, considerada essencial para o comércio americano.
Sob pressão de Pequim, a CK Hutchison anunciou alterações no consórcio para viabilizar a aprovação regulatória, sinalizando uma possível entrada da COSCO com participação majoritária no negócio.
Essa mudança pode aliviar as preocupações de segurança da China, mas cria tensão com Washington, que deve rejeitar principalmente a participação chinesa nos portos do Panamá.
Contudo, especialistas apontam que se os EUA se opuserem à entrada da COSCO, a China poderia tentar bloquear o acordo ou exigir mais da CK Hutchison.
Se aprovada, a transação ainda precisaria ser validada por cerca de 50 jurisdições e levaria pelo menos dois anos. O acordo é visto por analistas como uma demonstração do crescente embate EUA-China por domínio no setor marítimo mundial.
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