Brasil tem indústria na mira dos EUA

Indústria lidera vendas aos EUA — e vira o principal alvo do tarifaço. Veja também: socorro emergencial a empresas, queda nas vendas de carne e ataque hacker encerra empresa centenária.

🧩Exportações para os EUA se concentram em produtos industrializados

As exportações brasileiras para os Estados Unidos concentram uma parcela maior de produtos com valor agregado do que a média das vendas externas do país.

Esses dados evidenciam que a composição da pauta exportadora intensifica os efeitos das novas tarifas anunciadas por Trump e pode acelerar o processo de desindustrialização observado no Brasil nos últimos anos.

  • No primeiro semestre de 2025, 80,2% das exportações para os EUA vieram da indústria de transformação, contra 53,6% na média geral, segundo o Comex Stat.

  • Já a indústria extrativa representou 13,2% das vendas aos EUA (versus 23,7% para o mundo), e a agropecuária, 6,7% (ante 22,6%).

O Sistema Harmonizado (SH), também revela que produtos de maior complexidade são mais frequentes nas exportações brasileiras para os Estados Unidos do que para o restante do mundo.

  • Entre os dez principais capítulos exportados aos EUA estão combustíveis minerais, óleos minerais e derivados, além de ferro fundido, ferro e aço (15,2% do total).

  • A categoria de reatores, caldeiras e máquinas responde por 8% das exportações aos EUA — mais que o dobro da fatia nas vendas mundiais (3,6%).

  • Já máquinas e materiais elétricos aparecem na sétima posição nas exportações aos EUA (4%), mas não figuram entre os dez maiores destinos internacionais.

O professor do Instituto de Relações Internacionais da USP, Yi Shin Tang, avalia que, por conta do alto volume de exportações brasileiras com maior valor agregado, o impacto do tarifaço dos EUA tende a ser mais severo, podendo até acelerar o processo de desindustrialização no país.

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) também publicou, após o anúncio das tarifas, um estudo com análise sobre a exportação de bens manufaturados.

Os dez principais produtos manufaturados que o Brasil exportou para os EUA, em 2024, responderam por 42% do total; os 20 principais, por 55%. A concentração era menor em 2023: 39,4% e 52,3%, respectivamente.

O Brasil exportou US$ 97 bilhões em produtos manufaturados em 2024, dos quais US$ 21,4 bilhões tiveram os Estados Unidos como destino, ou 22% do total. No saldo comercial com os americanos, o Brasil teve déficit de US$ 15,3 bilhões.

👀 Estados preparam ações de socorro a empresas frente ao impacto das tarifas dos EUA

Após o anúncio do ministro da Fazenda, sobre um “plano de contingência” para conter os impactos do tarifaço dos EUA, governos estaduais também passaram a discutir medidas.

Em São Paulo, o governador mencionou que está estudando o aumento do fundo garantidor e a criação de linhas de crédito especiais. Em Goiás, o governador indicou que os juros seriam inferiores à taxa Selic, com foco no setor agroindustrial, mas sem uso de recursos públicos.

  • O governo goiano exigirá manutenção dos empregos pelas empresas beneficiadas. A medida é uma resposta ao risco de demissões em setores como o de carnes e derivados, que já relatam suspensão de contratos.

No Rio, o governo afirmou que está avaliando os impactos setoriais para definir ações específicas. Também iniciaram estudos ou criaram grupos de trabalho para mapear os efeitos da sobretaxa e formular respostas locais.

No plano federal, o governo avalia a criação de linhas emergenciais de crédito e de um fundo específico, com recursos extraordinários, para empresas afetadas, visando reduzir os juros.

Exportação de carne cai

A Abimaq estima que o tarifaço pode resultar em uma redução de receita de exportações de US$ 4 bilhões ao ano, o que equivale a 7% do total atual. A Abiec, associação que representa os frigoríficos exportadores, alertou ontem que já há recuo nas vendas de carne bovina para os EUA.

Em junho, segundo dados do governo, foram 8.332 toneladas embarcadas, queda de 14,8% ante as 9.896 toneladas de igual mês de 2024. Em relação a abril, o volume de vendas foi 61,8% menor.

🔑 Senha fraca permite que hackers afundem uma empresa de 158 anos

A KNP, empresa de transporte com 158 anos de história e 700 funcionários, foi forçada a encerrar suas atividades após um ataque de ransomware.

  • O acesso dos hackers ao sistema teria ocorrido por meio da adivinhação da senha fraca de um funcionário.

Apesar de cumprir normas do setor e possuir seguro contra ataques cibernéticos, a empresa teve todos os dados criptografados pelo grupo hacker Akira, que exigiu resgate — estimado por especialistas em até £5 milhões.

Sem recursos para pagar e sem acesso às informações essenciais, a empresa faliu.

O caso da KNP expõe a vulnerabilidade de empresas diante de falhas básicas de segurança digital. Segundo o Centro Nacional de Segurança Cibernética (NCSC), ataques de ransomware já afetam milhares de empresas no Reino Unido, com estimativas de 19 mil ocorrências apenas no último ano.

  • As falhas mais comuns incluem senhas fracas, ausência de autenticação em dois fatores e engenharia social.

As estatísticas são difíceis de mensurar porque muitas empresas acabam optando por não relatar os ataques e pagar o resgate, alimentando o ciclo do crime.

A pesquisa sugere que o valor de resgate do Reino Unido é de cerca de 4 milhões de libras, e que cerca de um terço das empresas opta por pagar.

O governo britânico discute a proibição de pagamento de resgates por órgãos públicos e a obrigação de empresas privadas reportarem ataques e obterem permissão antes de qualquer pagamento.

🫵 Governo abre consulta pública sobre contratos de transporte marítimo de longo prazo

O Ministério dos Portos e Aeroportos (MPor) abriu uma consulta pública para discutir a minuta que define as cláusulas essenciais dos contratos de transporte de longo prazo a serem firmados entre armadores e embarcadores de carga.

O prazo para contribuições é até 31 de julho, por meio da plataforma Participa + Brasil.

A proposta em análise atende ao artigo 7º da Lei nº 14.301/2022, que instituiu o Programa BR do Mar, iniciativa voltada à ampliação da navegação por cabotagem no Brasil.

O objetivo é estabelecer diretrizes claras e seguras para os contratos de longo prazo, levando em conta aspectos técnicos e jurídicos tanto do transporte marítimo internacional quanto da cabotagem.

Entre os pontos centrais da minuta estão: 

  • Alocação de riscos entre as partes;

  • Prazo mínimo de vigência contratual de cinco anos;

  • Previsão de multa em caso de rescisão antecipada.

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