Exportar ou parar? Brasil vive impasse

Perecíveis já embarcados em risco com tarifa dos EUA. China domina importações e mercado de contêineres mantém ritmo sólido.

🥴 Exportação de perecíveis aos EUA é “urgente”

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, declarou nesta terça-feira (15) que a situação dos produtos brasileiros com destino aos EUA é “urgente”. Segundo ele, o governo busca uma solução antes de 1º de agosto, quando a taxação entra em vigor.

  • A preocupação do governo se estende sobre as cargas já embarcadas, que podem ser alcançadas pela nova tarifa enquanto ainda estiverem em trânsito.

O presidente da Abrafrutas, Guilherme Coelho, destaca que a principal preocupação do setor está na safra de manga, que tem início em 1º de agosto e tem os EUA como principal destino. Segundo ele, 1.500 contêineres já estão reservados para exportação, com logística definida e contratos firmados com redes de supermercados norte-americanas.

Coelho acredita que não há tempo hábil nem estrutura para redirecionar os embarques à Europa ou ao mercado interno, pois derrubaria os preços da fruta.

O presidente da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), Roberto Perosa, afirmou que frigoríficos brasileiros já iniciaram a interrupção da produção voltada ao mercado norte-americano. Cerca de 30 mil toneladas de carne estão prontas, aguardam em portos ou já foram embarcadas com destino aos EUA.

Alberto Sérgio Capucci, vice-presidente do Sicadems (Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados do Mato Grosso do Sul), afirma que a paralisação ocorre somente para o mercado norte-americano.

Na avaliação de Capucci, a interrupção é uma forma de ganhar tempo para tentar negociar a nova tarifa. Como os embarques levam cerca de 30 dias até chegarem aos Estados Unidos, cargas enviadas a partir de agora já estariam sujeitas à taxação adicional prevista para entrar em vigor em 1º de agosto.

Mas não é só o Brasil que perde. A inflação da carne bovina para o consumidor americano está batendo recorde por causa de uma redução histórica do rebanho do país, que encareceu o preço do boi por lá — ele está custando duas vezes mais que o boi brasileiro. Daí a disparada nas importações da carne.

O Brasil não é o principal fornecedor de carne bovina dos EUA. Esse posto é ocupado pela Austrália, que não compete diretamente com a carne brasileira. Enquanto os australianos vendem diretamente para os supermercados dos EUA, o Brasil fornece carne para a indústria do país.

  • Até agora, o preço da carne brasileira era o mais barato do mercado externo.

Segundo o sindicato, ao menos quatro frigoríficos no estado suspenderam a produção destinada aos Estados Unidos: JBS, Naturafrig, Minerva Foods e Agroindustrial Iguatemi.

Apenas o frigorífico Naturafrig se pronunciou sobre a paralisação. Segundo a empresa, cerca de 5% da produção é destinada aos Estados Unidos.

Fernando Henrique Iglesias, analista do Safras & Mercados, acredita que se houver uma interrupção nas vendas para o mercado americano, dificilmente os frigoríficos vão redirecionar o produto para o mercado interno. Para ele, a tendência é que os frigoríficos brasileiros se direcionem ainda mais para o mercado asiático.

Neste mês, o Vietnã retomou as compras de carne bovina do Brasil. "É possível haver uma compensação em relação ao mercado norte-americano", avalia.

Para você, qual deve ser a prioridade para os exportadores afetados pelas tarifas dos EUA?

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🚢 Mercado de fretamento de porta-contêineres mantém ritmo sólido

Apesar das crescentes incertezas no mercado internacional, o mercado de fretamento de porta-contêineres segue estável. A baixa concretização de contratos existe, mas está relacionada à limitada capacidade disponível, já que a demanda permanece sólida em todas as frentes, de acordo com a Alphaliner.

A maioria das grandes embarcações estão esgotadas ou com estoque limitado até o final do ano. Espera-se que a maior parte da atividade de contratação se concentre em navios com menos de 2.000 TEUs.

  • Os VLCS (7.500-13.000 TEUs) seguem sem registro de novos contratos nas últimas duas semanas, devido à continua escassez programada até 2026;

  • O Classic Panamax (4.000-5.299 TEUs) também não registrou novos contratos nas últimas duas semanas. No entanto, a demanda permanece aquecida, o que, considerando a disponibilidade limitada de capacidade nas próximas semanas, deve ajudar a manter as taxas de fretamento atuais.

Até o momento, os contratos de afretamento para navios de 4.250 TEUs com entrega em 2025 foram fechados por períodos de 36 meses, a um custo aproximado de US$ 35.000/dia. As entregas futuras em 2026, por outro lado, envolveriam contratos mais curtos, de 24 meses, com tarifas abaixo de US$ 30.000/dia.

Enquanto isso, no subsegmento de nicho "broad sleeve", descobriu-se que o "RDO Favor", de 5.033 TEUs, havia sido subarrendado para a Maersk por um período entre dois e quatro meses a uma tarifa fixa de US$ 68.000/dia.

Algumas transportadoras decidiram pausar e esperar para realizar novas contratações, aguardando o desenrolar do comércio internacional quando a pausa tarifária de 90 dias dadas por Trump chegar ao fim.

Mas, para o mercado de fretamento, a persistente escassez de capacidade, aliada à baixa probabilidade de uma reabertura imediata da rota do Canal de Suez devido à retomada dos ataques no Mar Vermelho, praticamente garante que as taxas de fretamento permanecerão altas no futuro próximo, independentemente de como as condições evoluem. 

🚫 China aumenta restrições à exportação de tecnologia de baterias para VEs

O governo chinês anunciou no início da semana novas restrições à exportação de tecnologias essenciais para a produção de baterias de lítio. A decisão abrange processos avançados empregados tanto no desenvolvimento de baterias de nova geração, quanto na extração do mineral.

A medida tem como objetivo proteger a posição dominante da China na cadeia mundial de suprimentos de Veículos elétricos (VEs).

O alvo de Pequim são as tecnologias, e não os produtos acabados, o que significa que baterias e equipamentos produzidos na China ainda podem ser exportados livremente.

A lista abrange técnicas de fabricação para cátodos de LFP e LMFP, componentes-chave que determinam a densidade energética e a estabilidade das baterias. Além de incluir uma variedade de métodos de extração e recuperação de lítio.

A decisão sucede uma consulta pública realizada no início do ano e não representa uma proibição total. A partir de agora, empresas interessadas em exportar essas tecnologias deverão solicitar licenças aos departamentos de comércio, que avaliarão os pedidos com o apoio de órgãos técnicos.

👀 China avança em bens de consumo e já detém 26% da importação brasileira

A dependência brasileira de produtos americanos fechou o primeiro semestre perto do menor patamar em uma década, em um mercado cada vez mais dominado pela China.

  • O Brasil importou US$ 21,7 bilhões dos EUA de janeiro a junho, 11,5% a mais que no mesmo período de 2024, cerca de 16% do total comprado pelo país.

  • O valor importado da China no mesmo período atingiu US$ 35,7 bilhões, cerca de 26,3% do total comprado pelo Brasil, um recorde histórico.

Mesmo com o aumento das tarifas sobre a importação de veículos elétricos e híbridos, a China manteve a liderança como principal origem dessas compras pelo Brasil, superando com folga a Argentina — tradicional fornecedora do mercado brasileiro. De janeiro a junho, as importações de carros chineses somaram US$ 2,05 bilhões, ante US$ 844 milhões em compras da Argentina.

Essa história está se repetindo em vários eletroportáteis e eletroeletrônicos presentes nas casas dos brasileiros:

  • Importações de aparelhos de ar condicionado da China somaram US$ 498,5 milhões de janeiro a junho, uma alta de 67% em relação ao mesmo período de 2024.

  • Os aspiradores de pó importados da China somaram US$ 51 milhões no primeiro semestre, 26% a mais do que no mesmo período de 2024.

Mesmo nos setores onde o valor importado não cresceu, a China se manteve como fornecedora preferida no primeiro semestre desse ano.

  • Fogões, grelhas e assadeiras elétricas, atingiram US$ 98,2 milhões em importação, contra US$ 2,3 milhões da Alemanha, segundo principal fornecedor externo do segmento no Brasil;

  • Televisores já montados, atingiram US$ 65,6 milhões contra US$ 7,1 milhões do segundo principal fornecedor, Hong Kong;

  • Telefones celulares, incluindo partes e peças, somaram US$ 650,6 milhões na origem China, contra US$ 291,5 milhões do Vietnã, que ficou em segundo lugar na lista.

Em valor, a importação de origem China em 12 meses, até maio, aumentou 25,7%, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic). Pelos dados do Indicador de Comércio Exterior (Icomex) levantado pelo FGV Ibre, a quantidade importada da China subiu 37,2%.

De 2015 a 2024 o volume desembarcado em produtos chineses no Brasil aumentou 146,2%. Em bens dos EUA o crescimento foi de 1,12%. Da Argentina, importante parceiro comercial do Brasil, a alta foi de 21,9%.

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